Cruzeiro pelo Rio Reno



*** Cruzeiro pelo Rio Reno ***
18 de Junho de 1997


Quarta-feira, 18 de Junho de 1997

Tomamos café em Colônia e seguimos nossa viagem no ônibus da excursão que nos levaria até Boppard, pequena cidade onde embarcamos em um barco para um mini-cruzeiro pelo Rio Reno, com destino final na cidade de Rüdesheim. Hoje não estava chovendo não... mas fazia um frio!!! Tive que usar umas das malhas que minha mãe fez para as tias, porque senão ia congelar!!! kkkk

Infelizmente, ficamos pouquíssimo tempo em Boppard e não pudemos conhecer a cidade... Vou confessar uma coisa: adorei essa viagem para a Alemanha, mas nunca mais eu faço excursão de agência. É frustrante!!! Foi nessa viagem que decidi fazer meus próprios roteiros, conhecendo um único país e pesquisando antes absolutamente TUDO o que há para se ver no meu destino. 

Boppard é uma graça de cidade e se você, caro leitor, tiver a oportunidade de conhecê-la melhor, não deixe de visitar suas principais atrações turísticas, como a praça principal Marktplatz com a Igreja de St. Severus, as ruínas do forte romano, chamado Bodobrica, que foi construído próximo ao rio e tinha 20 torres a intervalos regulares de 27 metros.

Vista Panorâmica
Igreja de St. Severus
Marktplatz
Praça Principal
Ruínas do Forte Romano

Bye Bye

Embarcando

Enfim, todos já a bordo do navio, seguimos nossa viagem pelo Rio Reno. Que delícia de passeio!!! Apesar do vento frio, desfrutar das paisagens das margens do Reno, com aldeias típicas, ruínas e castelos medievais, foi uma experiências maravilhosa!!!

Esse mini-cruzeiro durou a manhã inteira pois na verdade navegamos a maior parte do tempo. Nossa parada principal foi em Rüdesheim e depois seguimos direto para Mainz onde chegamos no meio da tarde. Como o Rio Reno tem muitos castelos e cidadezinhas, essa página acabou ficando muito grande com fotos, histórias e lendas. Então dividi em duas partes: essa página que fala somente sobre o cruzeiro no Rio Reno e a seguinte que fala sobre Rüdesheim e Mainz.

E logo no começo do cruzeiro nos deparamos com o primeiro castelo, o Burg Maus, na pequena aldeia de Wellmich. A construção do castelo foi iniciada em 1356 pelo arcebispo de Trier, Bohemundo II, e foi continuada pelos próximos 30 anos por príncipes eleitores de Trier. A construção do Burg Maus era para fazer cumprir os recentemente adquiridos direitos de pedágio do Reno e para garantir as fronteiras de Trier contra os Condes de Katzenelnbogen que já tinham construído Burg Katz e Burg Rheinfels, localizados um pouco mais adiante no próprio Rio Reno. Na segunda metade do século XIV, Burg Maus era uma das residências do governante de Trier.

Ao contrário de seus dois castelos vizinhos, Burg Maus nunca foi destruído, embora caiu em ruínas nos séculos XVI e XVII. A restauração do castelo foi realizada entre 1900 e 1906 pelo arquitecto Wilhelm Gärtner com atenção aos detalhes históricos.

O castelo sofreu danos severos durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial e foi necessária nova restauração. Hoje Burg Maus hospeda um aviário que é o lar de falcões, corujas e águias, e demonstrações de vôo são encenados para os visitantes de final de março a início de outubro.

Castelo de Maus

Em seguida chegamos a St. Goar, onde fica o Castelo Katz, o Castelo Rheinfels e o Monte Loreley, famoso pelas lendas. O Castelo Katz foi construído no século XIV como base militar para proteger o Castelo Rheinfels. Ele foi bombardeado e destruído por Napoleão. Foi restaurado e hoje pertence a um industrial japonês.

Já o Castelo de Rheinsfels fica localizado na cidade de St. Goar e é o maior castelo que pode ser visto no Rio Reno. A maior parte do castelo está em ruínas, mas outra parte foi transformada em um luxuoso hotel e museu.

O Monte Loreley é uma montanha rochosa que faz uma esquina bem marcada em uma das curvas do Rio Reno e neste trecho existe uma forte correnteza nas águas. A lenda de Loreley diz que era a moradia de uma linda sereia loira que ficava sentada sobre uma rocha penteando seus longos cabelos e, enquanto cantava, as tripulações dos barcos ficavam encantadas e desviavam a atenção do turbilhão das águas do rio à frente sendo assim atraídos para a morte.

St. Goar
Castelo Katz, ao fundo
Castelo Katz, visto de perto

Castelo Rheinsfels, ao fundo

Castelo Rheinsfels

Loreley


A estátua da sereia


E vamos seguindo viagem...

Seguimos o cruzeiro, passando pela cidade de Oberwesel, onde fica o Castelo de Schonburg e a linda Liebfrauenkirche, a Igreja de Nossa Senhora. O Castelo é a principal atração de Oberwesel e as primeiras menções a ele foram entre os anos de 911 e 1166. 

Até o século XVII sua história era centrada por várias disputas familiares, pois foi um dos poucos casos em que após a morte dos Duques, todos os filhos tornaram-se herdeiros e não somente o mais velho como era costume na época. Isso gerou conflitos e litígios por tempo demais, imaginem que no século XIV viviam no castelo mais de 24 famílias, entre filhos, netos e sobrinhos, totalizando mais de 250 pessoas. 

O castelo foi incendiado em 1689 e permaneceu em ruínas até o final de século XIX quando um americano de ascendência alemã comprou o castelo da cidade e investiu milhões em uma intensa reforma geral. Depois de sua morte, seu filho vendeu o castelo de volta para a prefeitura de Oberwesel.

Em 1957, a família Hüttl arrendou o castelo e fundou o Burghotel auf Schönburg, um dos mais lindos hotéis-castelos da Alemanha, que oferece acomodações luxuosíssimas e um restaurante renomado, além é claro da maravilhosa paisagem do Vale do Rio Reno.

Schonburg e Liebfrauenkirche
Castelo de Schonburg
Igreja de Nossa Senhora

Oberwesel

A próxima cidade de nosso roteiro foi Kaub onde ficam os Castelos de Gutenfels e Pfalz.


O Castelo de Gutenfels, que significa rocha sólida em alemão, foi construído em meados do século XIII. Construção com características militares, foi usado como residência dos príncipes eleitores da região. Foi destruído por invasões francesas, como a maior parte dos castelos do Reno e restaurado parcialmente no final do século XIX tornando-se nos dias atuais um hotel e restaurante. Apenas as ruínas são vistas de longe.

Situado em uma ilha no meio do rio Reno está o Castelo Pfalz, que foi construído como uma fortaleza em formato de navio e serviu como uma estação de pedágio para os barcos de mercadorias que circulavam no Reno. Foi restaurado de acordo com o período barroco, mantendo as mesmas características do século XIV. Funciona como museu e o visitante não encontra as comodidades modernas, como eletricidade e banheiros.

Castelo de Gutenfels e Pfalz, em Kaub
Castelo de Gutenfels


Castelo de Pfalz


Continuando nosso roteiro pelo Rio Reno encontramos a cidade de Bacarach, cidade tombada pela UNESCO, e que foi o mais importante local para o comércio de vinho no Vale do Médio Reno. Suas casas, localizadas no centro da cidade, tem mais de 500 anos. Um passeio pelas ruas históricas e cantinhos escondidos perto do seu antigo mercado de vinhos é o suficiente para deixar qualquer pessoa fascinada por este pequeno lugar. 

O mais famoso castelo de Bacarach é o Castelo Stahleck que foi construído em 1132 para abrigar o arcebispo de Colônia e foi quase completamente destruído pelos franceses em 1689. Por cerca de 300 anos, o castelo ficou abandonado, em ruínas e foi somente nos dias mais atuais que ele foi reconstruído e transformado em um hotel tipo albergue muito confortável. Aliás, é um dos preferidos pelos turistas que querem pernoitar em um castelo pagando preços mais acessíveis e desfrutando da bela vista que o castelo oferece.

Bacharach

Bacharach e o Castelo de Stahleck ao fundo
Castelo de Stahleck



Pelas ruas de Bacharach


Detalhe da Fachada


Conto de fadas

Nossa próxima parada foi em Lorch, outra cidadezinha cheia de prédios históricos, que incluem torres, igrejas, fortificações e museus. Como sede de eventos culturais e gastronômicos, não podia deixar de ser também cheia de tavernas de vinho.

Uma curiosidade é que, ao final da Primeira Guerra Mundial, Lorch foi “capital” do Freistaat Flaschenhals (Estado Livre do Gargalo). Esse quase-estado foi formado quando os aliados dividiram parte da Alemanha em zonas de ocupação, mas, por um erro de cálculo, um pequeno território entre as zonas americana e francesa ficou sem ser ocupado por nenhum deles, mas também separado do território da República de Weimar, e sem qualquer conexão com ele. Os habitantes elegeram o prefeito de Lorch como “presidente”, passaram a emitir a própria “moeda”, e viviam principalmente do contrabando, suplementado por assaltos aos trens de carga franceses. 

As ruínas do Castelo de Nollig dominam o monte acima de Lorch. Construído no Século XIV, era a principal fortificação da cidade. Servia, por sua vez, como bastião do príncipe arcebispo de Mainz.

Já o Castelo de Fürstenberg, outra construção histórica da cidade, foi construído pelo príncipe-arcebispo de Colônia, para se defender e, como sempre, já que estava ali, para cobrar impostos. Foi destruído no Século XVII, na Guerra dos Nove Anos, uma das guerras de Luís XIV contra o resto da Europa. Hoje, seus proprietários privados preferem mantê-lo como ruínas para o turismo.

Ruinas do Castelo Nollig
As ruinas de Fusternberg
Igreja de St. Martin

Assmannshausen é a cidade seguinte, também rodeada de vinhedos. Os vinhos mais famosos do Reno são os brancos, tradicionalmente os Riesling, e mais recentemente os Grauer Burgunder, a versão alemã dos Pinot Grigio. Mas Assmannshausen, em particular, é terra dos tintos Spätburgunder, o mesmo que Pinot Noir, e já vem se destacando no cenário mundial.

Assmannshausen

Em seguida chegamos a Niederheimbach, que é outra pequena aldeia como sua vizinha Assmannshausen. 

A principal atração da cidade é o Castelo de Sooneck, construído no Século XI, e que fazia parte do sistema de defesa da Abadia de Kornelimünster. Entretanto, os Sooneck abandonaram as obrigações de guardiães dos bons frades, e passaram a concorrer com Reichenstein, especializando-se na cobrança de pedágio dos viajantes da região. Também acabaram sendo executados e o castelo destruído no Século XIII. Reconstruído, foi destruído de novo no Século XVII e reerguido no Século XIX pelo soberano da região. Atualmente serve de museu com uma coleção de maravilhosas pinturas e móveis de época.

Existe uma lenda que narra a rivalidade entre os dois proprietários dos castelos de Sooneck e de Fürstenberg, em Lorch. Diz que Siebold von Sooneck, senhor do Castelo de Sooneck, sentia muita inveja de Hans Veit de Fürstenberg, senhor de Fürstenberg, por ele ser mais famoso na região por causa de sua habilidade com a besta. 

Siebold desafiou Fürnstenberg para um duelo, e devido sua força e compleição física maior, saiu-se vencedor. E para selar sua vitória, queimou os olhos de Fürstenberg e trancou-o no calabouço do castelo durante meses.

Foi durante uma suntuosa festa em seu castelo, para continuar a se vangloriar perante os presentes e humilhar ainda mais seu desafeto, trouxe Veit, o Cego (como passou a ser conhecido) e propôs uma aposta, que se ele conseguisse acertar um cálice dourado atirado ao ar com seu arco, ele estaria livre e poderia ir embora. 

Aposta aceita, no mesmo instante em que Siebold lançou o cálice sua garganta foi perfurada pela flecha lançada por Veit, morrendo na hora. Veit, o cego, desapareceu sem deixar rastros...

Castelo de Sooneck

Trechtingshausen é outra cidade romântica do Vale do Reno e está localizada no lado esquerdo do Reno. Trechtingshausen tem como evento histórico mais notável a execução das famílias de barões-ladrões Reichenstein e Rheinstein, que controlavam os dois grandes castelos mais temidos da região.

O Castelo Reichenstein é um dos mais antigos castelos do Reno. Os primeiros registros datam do século XI, quando era um castelo muito temido na região por ser esconderijo de barões-ladrões. Foi destruído duas vezes: a primeira vez pela Liga das Cidades Renanas e a segunda vez pelo Imperador Rudolf von Hapsburg. Ficou em ruínas até o século XIX, quando foi reconstruído e transformado mais recentemente em um hotel e restaurante. Abriga também um pequeno museu com coleções de armas, utensílios em ferro fundido, chifres de animais e principalmente 1200 troféus de caça.


O Castelo de Rheinstein, que significa Pedra do Reno, tem uma posição privilegiada em comparação aos demais castelos do Reno, pois fica sobre um grande penhasco 80 metros acima do rio. Foi construído por volta de 1316 e 1317 e tornou-se propriedade do arcebispo de Trier, Kuno von Falkenstein, no século XIV. Passou por uma fase de declínio durante as guerras até que no século XIX o príncipe Frederico da Prússia o comprou e promoveu toda a sua reconstrução. Diz-se que em 1975, um cantor de ópera comprou o castelo de Rheinstein. Atualmente explora o turismo, funcionando como hotel e oferecendo “noites românticas” e espetáculos em estilo medieval.


Castelo de Reichenstein

Castelo de Rheinstein

Castelo de Rheinstein ao fundo

Quase chegando ao nosso destino final encontramos as Ruínas de Ehrenfels, um castelo erigido no século XIII, e que formava com os castelos vizinhos uma linha de defesa dos territórios do príncipe-arcebispo de Mogúncia (Mainz). Talvez mais importante, servia também de posto de coleta de impostos, e em tempos de guerra, as riquezas da Catedral Mainz eram mantidas a salvo neste castelo.

O castelo foi destruído no Século XVII e nunca mais foi restaurado. Hoje suas ruínas ficam dentro de um dos muitos grandes vinhedos em terraços, responsáveis pela produção dos famosos vinhos do Reno.

As ruinas do Castelo de Ehrenfels

E já quase chegando em Rüdesheim am Rhein, fica Bingen, uma cidadezinha que se originou de uma fortificação romana. Sendo uma região vinícola, é uma cidade com várias festas anuais, entre as quais a Nacht der Verführung ou traduzindo-se como A Noite da Sedução. 

O primeiro povoado a ser construído no local foi obra dos celtas que o chamaram de Binge. Depois foi habitado pelos romanos, que o transformaram em um posto militar e ponto de partida da Via Ausônia até Tréveris. Entre 335 e 360 a então vila foi cristianizada. Como a maioria das cidades do Reno, foi alvo de disputas pelos franceses, foi devastada por guerras, sofreu vários incêndios e pilhagens.

Perto da cidadezinha de Bingen, bem no meio do rio Reno, fica localizada uma pequena ilha com uma torre, a Mäusenturm ou a Torre dos Ratos. Conta a lenda que Hatto, o arcebispo de Bingen, era um homem muito mau e avarento. Cobrava impostos altíssimos.

Quando um dia, uma catástrofe natural destruiu grande parte da colheita da região de Bingen, Hatto mandou recolher o que sobrou da produção agrícola, trancando tudo e deixando nada para a população, que estava passando fome. Uma multidão de famintos dirigiu-se ao castelo de Hatto, para implorar por pouco de comida.

O arcebispo mandou que fossem a um celeiro, onde encontrariam toda a comida que desejassem. Quando todos entraram no celeiro, Hatto mandou que se trancassem as portas e ateasse fogo ao celeiro. Das cinzas surgiram, porém, milhares de ratos que perseguiram o arcebispo, invadindo seu palácio, comendo tudo e atacando as pessoas.

Em pânico, Hatto fugiu para a Mäuseturm, onde acreditava estar a salvo, pois a fortaleza encontra-se no meio do rio. Bem, ele se enganou! Os ratos o seguiram até lá e o devoraram!

E finalmente, nosso cruzeiro chega á encantadora Rüdesheim... mas vou contar o resto do passeio por Rüdesheim e Mainz na próxima página.

Mäuseturm
Mäuseturm ao fundo






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