Strasbourg / Trier



*** STRASBOURG / TRIER ***
16 de Junho de 1997


Segunda-feira, 16 de Junho de 1997

Após uma pequena confusão na organização do tour, tomamos o café da manhã em Freiburg e seguimos em direção a Strasbourg, na França... uma das cidades mais encantadoras que eu conheci, parece que você está vivendo uma história ambientada na Alemanha medieval, com todas aquelas típicas casas em estilo enxaimel.

A cidade tem uma localização privilegiada e foi sempre alvo de disputa regional. Hoje fica na divisa entre França e Alemanha. Atualmente é sede de organismos internacionais de destaque, ligados à União Européia, como o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu e a Corte Européia dos Direitos Humanos.

Parlamento Europeu

Ao longo do tempo, Strasbourg passou de mão-em-mão entre a França e a Alemanha. Foi uma cidade livre até o século XVII, quando juntou-se à França. Em 1871, após a Guerra Franco-Prussiana se tornou uma cidade alemã mas voltou a fazer parte da França ao fim da Primeira Guerra Mundial com a assinatura do Tratado de Versalhes. Em 1940 foi ocupada pela Alemanha Nazista e em 1944 voltou a fazer parte do território francês. Os cidadãos de Strasbourg passaram parte da sua história divididos ente a França e a Alemanha. Hoje é uma cidade francesa com forte influência alemã. E por esse motivo, mesmo não mais pertencendo à Alemanha fez parte do nosso roteiro.

A maior atração do centro histórico de Strasbourg é a sua catedral de Notre-Dame. A torre gótica agulhada de 142m pode ser vista de qualquer ponto da cidade. Foi a mais alta igreja da Europa até 1880, quando foi superada pela Catedral de Colônia no norte da Alemanha. Hoje é considerada a quinta maior do mundo. A catedral levou 250 anos para ser concluída tendo seus trabalhos finalizados em 1439.


Notre Dame de Strasbourg

E foi pela praça principal e pela Catedral de Notre Dame que começamos o nosso passeio com a excursão. Ao visitar a Catedral não deixe de ver o Horloge Astronomique. Um relógio astronômico do século XIX, que sempre às 12h30min, os 12 apóstolos desfilam diante de Cristo. Um relógio astronômico é dotado de ponteiros e mostradores, capaz de exibir informações como as posições relativas do Sol, da Lua, dos planetas e das constelações. Outras atrações imperdíveis da Catedral são o majestoso órgão e os vitrais coloridos que iluminam toda a nave.

Felicidade!!!
Notre Dame de Strasburg
Essa porta é maravilhosa!!

A praça da Catedral

Ao fundo: Maison Kammerzell

O centro da cidade

Relógio Astronômico

Órgão

Vitrais

A praça onde fica a Catedral é provavelmente uma das mais charmosas de toda a cidade. Os edifícios mantêm a arquitetura típica da região da Alsacia. E como em muitas praças, é um lugar de comércio e de grande interesse cultural.

Em frente à Catedral podemos ver vários artistas oferecendo retratos ou caricaturas feitos na hora. É o turismo que manda nesta praça em que uma parte das lojas tem as portas abertas para venderem "souvenirs" da cidade e da região mas são os inúmeros restaurantes e cafés que a animam.

E um dos edifícios mais famosos da praça é a Maison Kammerzell, uma casa histórica considerada pelos especialistas como uma jóia da arquitetura da cidade e que funcionou como um mercado nos tempos passados. Hoje abriga um restaurante. Nessa mesma praça, que é muito bonita aliás, funciona também a oficina de turismo da cidade e onde você pode conseguir mais informações sobre o que desejar.

Um verdadeiro peru no pires!!! 
Detalhe da placa

E em um rua próxima à Catedral, você encontra ainda o Palais Rohan, um palácio que já serviu como edifício principal da Universidade de Strasbourg. Hoje, ele é sede de três dos principais museus da cidade: o Museu Arqueológico, o Museu de Artes Decorativas e o Museu de Belas Artes.

Palais Rohan

Depois de visitar a Catedral e os entornos da praça, fomos para o passeio pelos canais e eclusas de Strasbourg, que funcionam de acordo com o nível do Rio Rheim. Esse passeio é muito legal e dura em torno de 1:10h. Os barcos são bastante modernos e saem a cada meia hora na alta temporada, mas é preciso reservar o horário com pelo menos 1 hora de antecedência. Recomendo reservar o horário quando for visitar a catedral, pois é bem perto. É importante notar que existem 2 tipos de barco: os fechados com teto de vidro e ar condicionado e os abertos. Os fechados são mais confortáveis, mas o vidro prejudica as fotos. Pergunte no momento da compra pelo o horário do barco que deseja, pois assim você não será surpreendido. Todos os assentos do barco possuem um fone de ouvido e você pode escolher entre as mais de 10 línguas disponíveis, mas infelizmente o português não é uma delas.

Na primeira parte do passeio, ele dá a volta na Île-de-Strasbourg e você consegue visualizar toda a arquitetura do centro da cidade. O barco também atravessa comportas de água, pois existem níveis diferentes de água nos canais. Na segunda parte do passeio ele se afasta do centro e vai até os modernos prédios do Parlamento Europeu e Conselho da Europa, já que Strasbourg é a sede desses órgãos na comunidade europeia. Os prédios são bem modernos, em aço e vidro, o que faz com que destoem completamente da arquitetura típica da cidade, provocando um interessante e bizarro contraste. 

As casas em estilo enxaimel

Passeando pelos canais

As meninas curtindo o passeio

E de repente... cisnes!!!



Casa da Marseillaise

Mais surpresas: uma fonte

A Catedral vista dos canais

Paisagem linda!!!

Depois do passeio de barco, fomos passear por Petite-France, um bairro que é uma das grandes atrações de Strasbourg. A região é toda rodeada por canais, pontes, flores, cafés com mesas do lado de fora. As casinhas são encantadoras e apesar do nome do bairro, são todas tipicamente alemãs. Na Idade Média, essas casas eram habitadas pela classe trabalhadora, como pescadores, moleiros e curtidores de couro. Hoje, em referência aos seus antigos moradores, algumas ruas levam o nome dessas profissões Rue des Meuniers ou rua dos moleiros e a Rue des Tanneurs ou rua dos curtidores.

Só que o nome “Pequena França” tem uma história não tão glamourosa como sua aparência: no século XV, um hospital foi construído para atender soldados franceses vítimas de varíola, sífilis e outras doenças. Os alemães, pejorativamente, associavam a sífilis à uma doença típica dos franceses e daí o nome do bairro.

Outra curiosidade é que nesta parte da cidade existem as Ponts Couverts, porta de entrada do bairro Petite France e que eram pontes cobertas rodeadas por quatro torres que eram usadas pra proteger a cidade. Mas hoje elas não são mais cobertas e o que se vê são só as torres datadas do século XIV.

Algumas curiosidades sobre Strasbourg:

- La Marseillaise (hino nacional da França) foi composto pelo oficial Claude Joseph Rouget de Lisle em 1792, em Strasbourg, como uma canção revolucionária. Enfim, ela não foi composta em Marseille, como muitos pensam.

- Diz-se que o primeiro pinheiro de Natal foi feito em Strasbourg, enfeitado com flores, biscoitos e frutas secas.

As casas enxaimel
Os cafés ao ar-livre
Os canais


Les Ponts Couverts
Les Ponts Couverts

Ao final da tarde, deixamos a contragosto a estonteante cidade de Strasbourg e fomos em direção à Trier, cidade de muitos encantos.

Trier fica no Vale do Rio Mosel, famosa região vinícola da Alemanha, e foi fundada pelo imperador romano Augusto em 16 AC e se chamava Augusta Treverorum. E apesar de seu nome em alemão ser Trier, ainda existem referências à cidade usando o seu nome original Tréveris. A cidade se tornou a residência preferida de vários imperadores romanos, inclusive Constantino, o Grande, o primeiro imperador cristão, e é conhecida como a “Roma do Norte”. 

Quando a dominação dos romanos acabou, os francos tomaram a cidade em 459 DC. No século XII, Trier virou um centro importante para bispos e arcebispos. Na Idade Média, o Arcebispo de Trier foi um príncipe eclesiástico importante, controlando as terras da fronteira francesa até o Reno. Ele também foi um dos sete eleitores do Sacro Império Romano.

Muitas vezes, Trier foi pega de surpresa por guerras entre a França e a Alemanha, por ficar entre os dois países. Como resultados das Guerras Napoleônicas, Trier virou francesa em 1794. Mas com a derrota final dos franceses em 1815, Trier virou alemã mais um vez e permaneceu alemã até hoje. Como muitas cidades alemãs, Trier sofreu vários estragos durante a Segunda Guerra Mundial, mas se reergueu e hoje, os visitantes lotam suas ruazinhas, atrações arqueológicas e arquitetônicas.

Trier é uma cidade muito tranquila com a maioria de seus principais pontos turísticos localizados a uma curta distância do centro da cidade velha. É conhecida não só como a mais antiga cidade alemã, mas também como importante centro de monumentos arquitetônicos e patrimônios artísticos da Antiguidade.

A Hauptmarkt é o centro nervoso da cidade e é uma das praças mais bonitas da Alemanha, com fachadas de prédios que datam de séculos passados. Como por exemplo a belíssima Rotes Haus, que significa "casa vermelha", construída em 1680 e que contém na fachada uma inscrição em latim narrando que Trier é 1300 anos mais velha do que Roma, ou ainda a residência burguesa Steipe que hoje funciona para festas e cerimônias do conselho municipal e também a Löwenapotheke que é a farmácia mais antiga da Alemanha e que ainda está em funcionamento.

Além dos edifícios históricos, na praça encontramos a Igreja de St. Gangolf, cuja entrada é pela rua lateral, a fonte de São Pedro, ou Petrusbrunnen em alemão, datada de 1595 e rodeado pelas 4 virtudes e ainda a Marktkreuz, uma cruz que representa a reconstrução da cidade após um ataque de vikings no ano de 882.
A fonte de São Pedro
Visão geral da praça

A torre da Igreja de St. Gangolf
Rotes Haus
Residência Steipe
Löwenapotheke

Marktkreuz


A partir da praça pode-se seguir em várias direções passeando pelas ruas só para pedestres e visitando importantes pontos turísticos.

Além da Igreja de St. Gangorf, na Hauptmarkt, você pode conhecer 3 das mais belas e representativas igrejas de Trier: a Igreja de Nossa Senhora ou Liebfrauenkirche, a Catedral de Saint Peter ou Dom St. Peter e a Basílica de Constantino ou Konstantinbasilika.

A Igreja de Nossa Senhora, concluída em 1235, ergue-se ao lado da Catedral de São Pedro e é a mais antiga igreja gótica na Alemanha. Pela foto dá para se observar o enorme tamanho da Catedral em comparação à Igreja de Nossa Senhora. A Catedral de São Pedro tem uma fachada naturalmente românica enquanto que a Igreja de Nossa Senhora, à direita, já tem traços predominantemente góticos. 

Catedral de São Pedro (esquerda) e a Igreja de Nossa Senhora (direita)


A Igreja de Nossa Senhora


Portão de Entrada


Detalhe do Interior

A Catedral de São Pedro de Trier, em alemão Dom St. Peter, é a mais antiga de toda a Alemanha. A história da catedral começa no tempo dos romanos, quando uma igreja foi construída por Constantino, o primeiro imperador cristão, sobre o palácio de sua mãe Helena. A construção começou em 326 dC, para comemorar o 20º aniversário de seu reinado. Destruída e reconstruída várias vezes, a catedral era quatro vezes maior do que a catedral de hoje, cobrindo a área da catedral, o Leibfrauenkirche, a Praça da Catedral, do jardim ao lado e as casas quase até o Marktplatz.

Se prestarem atenção, vão reparar que a torre da direita é maior que a torre da esquerda, que é original. A torre da direita foi aumentada para ficar maior que a de San Gangolfo, mas o dinheiro não foi suficiente e não conseguiram aumentar a torre esquerda.

A estrutura da Catedral de São Pedro é, como se espera de uma igreja em estilo românico, com marcantes características austeras, porém, devido às várias reconstruções, o interior mistura vários estilos como românico, o barroco e o gótico. Algumas peças chamam a atenção como o órgão de 30 toneladas, o estuque barroco do coro e a capela do manto sagrado.

Catedral de São Pedro

A Catedral de S. Pedro à esquerda e ao centro a Igreja de Nossa Senhora
Interior da Catedral


O orgão

Detalhe



Detalhe do Domo da Catedral de São Pedro


A Basílica de Constantino ou Aula Palatina foi construída como uma sala do trono romano. Hoje é uma igreja protestante, a única em Trier, tendo sido declarada Patrimônio Mundial da UNESCO, hoje o edifício é a maior estrutura romana preservada desde os tempos antigos.

A Basílica data do ano de 310 d.C e é uma construção de tijolos com forma alongada e retangular, medindo 67 m de comprimento, 27 m de largura e 30 m de altura. Exibe uma grande abside semicircular que era destinada a abrigar o trono do Imperador Romano, o Trono de Constantino, para quando ele fosse visitar Trier.

Sua fachada é desprovida de decoração e em uma das paredes existe um outro edifício, o Palácio Kurfürstliches ou Palácio Eleitoral, encravado à basílica e com um estilo radicalmente oposto. 

Depois dos saques sofrido por tribos germânicas, o edifício ficou quase destruído. No século XII, a abside foi transformada em torre para acomodar o arcebispo. Nos períodos napoleônico e prussiano, o local serviu de alojamento militar. O rei Frederico Guilherme IV da Prússia ordenou a reconstrução da basílica, que desde 1856 abriga a igreja protestante do São Salvador. Reerguida após o bombardeio de 1944, seu tamanho ainda parece extraordinário.

Curiosidades: O edifício é a maior estrutura romana single-room, o que significa uma única nave principal, preservada desde os tempos antigos. 

Depois, nós visitamos o Palácio Kurfürstliches ou Palácio Eleitoral que, em 1615, começou a ser agregado à Basílica. É um edifício cor de rosa, em estilo rococó, que serviu de residência aos príncipes eleitores. São duas construções bem diferentes e unidas, o que faz um contraste interessante e também estranho.

A Basílica de Constantino
O interior
A Basílica e o Palácio Eleitoral

Palácio Eleitoral





Uma doida e os dois prédios ao fundo

Os jardins


Perto da Hauptmarkt, você pode visitar a casa em que Marx nasceu em 1818. O local hoje é um museu e centro de estudos.

Casa de Karl Marx

Seguimos a excursão para visitarmos a famosa Porta Nigra, declarada patrimônio mundial da Unesco. Os romanos que ocupavam a região naquela época, se sentiram ameaçados pelos germânicos e construíram um muro de 6,4 km ao redor da cidade com 4 portões embora existem referências a 5 portões. Porta Nigra é o único dos portões romanos que ainda se mantem em pé, com 36 m de comprimento e quatro andares que podem ser visitados. Sua construção data do século III. 

Um dos detalhes mais legais é que nosso hotel ficava bem em frente à Porta Nigra. Mas infelizmente, nosso passeio era curto e não tivemos a oportunidade de subir. Mas segundo pesquisas que fiz, duas passagens levam a um pátio interno, com duas fileiras de galerias de defesa. Todo a estrutura foi feita com grandes blocos de pedra e barras de ferro, sem nenhum tipo de argamassa.

Foi transformada na Igreja de São Simeão no século XII e assim permaneceu até o século XIX, quando passou a ser somente um monumento histórico aberto para visitação ao público.

Os entornos da Porta Nigra
Porta Nigra
Detalhe do interior

Detalhe da Fachada
Placa


A praça é linda!!!


Ao final do dia, fomos conhecer as Termas Imperiais ou Kaiserthermen, onde os romanos desfrutavam dos prazeres da vida. Infelizmente, não fizemos a visita completa que inclui o interior e as passagens subterrâneas. Construídas no início do século IV, durante o reinado de Constantino, eram o terceiro maior complexo de termas do mundo romano. As ruínas das paredes e fundações ainda exibem o desenho original. 

As paredes do Caldário, a sala com piscina de água quente, são as mais preservadas. Depois vem o Tepidário, as termas mornas. O espaçoso Frigidário era usado para os banhos frios e a Palestra, uma área externa para os exercícios, também era ampla. Outra parte remanescente é o sistema de aquecimento, no qual o ar era aquecido por fornalhas e conduzido por baixo do piso.

Passamos pelas ruínas do Anfiteatro Romano, datado do século II d.C. Ele fica perto das Termas Imperiais e foi cenário de lutas de gladiadores e competições de animais para entretenimento do povo. Ahhhh, a famosa política romana do Pão e Circo? Que aliás é ainda muito usada nos dias de hoje, nossos governantes que o digam!!! rsrsrsr

Com capacidade para até 20 mil pessoas, toda a estrutura, constituída de uma arena elíptica e uma arquibancada, era cercada por uma muralha alta.

As Termas Imperiais





Anfiteatro Romano



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